Filme: Besouro (2009), Direção de João Daniel Tikhomiroff, Brasil, 94 minutos.
Manuel
Henrique Pereira (1895-1924), batizado Besouro na capoeira, viveu em Santo
Amaro da Purificação, município da região do Recôncavo baiano que, durante o
Brasil Colônia e Império, abrigava diversas plantações de cana de açúcar.
Embora a Lei Áurea tenha institucionalizado o fim da escravidão enquanto regime
de trabalho, as formas de exploração continuaram guardando elementos antigos,
como os castigos físicos. Num país predominantemente rural das primeiras
décadas do século XX, os grandes proprietários de terra mantinham o poder, seja
através da coerção física, seja através de formas “cordiais” e clientelísticas
de dominação, como o apadrinhamento. O conjunto dessas práticas de dominação
ficou conhecido como “coronelismo”, derivado dos títulos de “coronéis” dados
aos grandes proprietários de terra por comporem a Guarda Nacional que combateu
as revoltas provinciais da década de 1830.
O poder político dessas elites rurais constituía a base do sistema oligárquico
da Primeira República (1891-1930). O filme que vimos está ambientado em 1924.
A
biografia de Besouro Mangangá ou Cordão de Ouro está difundida, nas rodas de
casos e nas rodas de capoeira. O que se sabe está no que se conta e se canta
sobre ele, na memória oral que preserva sua existência. O candomblé, enquanto
elemento dessa cultura reinventada pelos escravizados africanos de diversas
origens no Brasil, está presente em profunda ligação com a capoeira. O fato de
Exu ser o primeiro Orixá a aparecer no filme também não é gratuito. No
candomblé, Exu é o primeiro Orixá a ser reverenciado. Quando Besouro morre,
acorda nos braços de Iansã. Morre em guerra e, no outro mundo, é despertado
justamente pela guerreira. Também encontra Mestre Alípio. Está no Òrun que, no
candomblé, representa o mundo espiritual onde convivem os ancestrais e os
Orixás. Já o Àiyé é a terra atravessada e não descolada desse mundo de força, o
Òrun.
Bibliografia:
Comentários
Postar um comentário