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A segregação das populações negras durante a Primeira República

Depoimento de João da Baiana apud Roberto Moura, Tia Ciata e a Pequena África
“Eu me lembro que em certa ocasião, o conjunto de que eu participava foi convidado para tocar no palacete do senador Pinheiro Machado, lá no morro da Graça. Quando
o conjunto chegou, o senador foi logo perguntando aos meus colegas: cadê o menino? O menino era eu. Aí meus companheiros contaram ao senador que a polícia tinha tomado e quebrado o meu pandeiro, lá na Penha. O senador mandou que eu passasse no Senado no outro dia. Passei e ganhei um pandeiro novo, com dedicatória, peça que tenho até hoje.”

Depoimento de Pixinguinha apud Roberto Moura
“Negro não era aceito na segunda orquestra. Lembro-me que os únicos pretos que tocavam no Cinema Palais era um tal de Mesquita (violonista) e um tio dele (violoncelista). Ambos haviam estudado na Europa tinham chegado de lá com fama e só tocavam música erudita. Nós começamos a tocar nesse Cinema porque começamos a ser exigidos pelo público frequentados. Depois surgiu a propaganda, o rádio se firmou, a nossa música ganhava cada vez mais prestígio e eu fui subindo com ela. No rádio, desempenhei várias funções, sempre ligadas à música. A partir de 1925, também minhas composições começaram a ser gravadas. As gravadoras foram ficando mais comerciais e estavam preocupadas em explorar o gosto do público. Mas o negro não era aceito com facilidade. Havia muita resistência. Eu nunca fui barrado por causa da cor, porque eu nunca abusei. Sabia onde recebiam e onde não recebiam pretos. Onde recebiam eu ia, onde não recebiam, não ia.”

João da Baiana

Pixinguinha

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